Juíza condena sargento, despachante e mais cinco a 44 anos pelo roubo da propina de Polaco
A juíza May Melke Amaral Penteado Siravegna, da 4ª Vara Criminal de Campo Grande, condenou sete a 44 anos e dois meses de cadeia pelo roubo da propina do corretor de gado José Ricardo Guitti Guímaro, o Polaco, ocorrido há quase oito anos. Entre os condenados está o sargento da Polícia Militar Hilarino Silva Ferreira, o Lino, primo do ex-governador Reinaldo Azambuja (PSDB), o despachante David Cloky Hoffmam Chita, e o pedreiro Luiz Carlos Vareiro, o Véio. O processo tramita em sigilo e é um dos mais rumorosos da política estadual. Conforme a denúncia dos promotores Clóvis Amauri Smaniotto e Marcos Alex Vera de Oliveira, o grupo foi contratado pelo advogado Rodrigo Souza e Silva, filho do ex-governador, para roubar R$ 300 mil, suposta propina destinada a comprar o silêncio de Polaco, que ameaçava fazer delação premiada logo após a delação premiada dos donos da JBS. O escândalo veio a tona com a prisão do grupo pelo Batalhão de Choque no dia 6 de dezembro daquele ano. Inicialmente, Ademir disse que só tinham roubado o carro e levado R$ 9 mil. A verdade só ocorreu após a prisão de todos os integrantes do grupo. Rodrigo Souza e Silva foi denunciado como mandante do roubo, mas foi absolvido por falta de provas pela juíza May Melke Siravegna. A magistrada chegou a rejeitar a denúncia contra o filho do ex-governador, mas a 2ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul acatou pedido do MPE, concluiu que havia provas e determinou o julgamento do herdeiro tucano. Ele foi absolvido com aval do promotor Fábio Goldfinger, que substituiu Marcos Alex na 30ª Promotoria de Justiça do Patrimônio Público. Polaco mandou comerciante receber propina de R$ 300 mil, segundo denúncia do MPE (Foto: Arquivo/O Jacaré) O roubo da propina No entanto, os envolvidos diretamente no roubo não foram perdoados pela magistrada. Conforme despacho publicado nesta terça-feira (2), May Melke condenou Hilarino Silva Ferreira a seis anos no regime semiaberto. Ele é apontado como o responsável pela contratação do grupo para roubar a propina. O despachante David Chita foi condenado a seis anos por ter intermediado a contratação entre Lino e o Véio. Ele está com a prisão preventiva decretada no escândalo de desvio do Detran e segue foragido. Na campanha eleitoral do ano passado, ele apareceu para acusar o deputado federal Beto Pereira (PSDB) de chefiar o esquema, mas não apresentou provas e teve o pedido de delação premiada rejeitado pelo MPE. O líder do grupo, Luiz Carlos Vareiro, também foi condenado a seis anos no semiaberto. Semianalfabeto, ele aparece como laranja de uma empresa denunciada por desvios em obras da Prefeitura de Campo Grande. O autônomo Vinicius dos Santos Kreff foi condenado a seis anos no semiaberto. Menos sorte tiveram Jefferson Braga de Souza, o Neguinho, e Fábio Auguto de Andrade Monteiro, que foram condenados a seis anos e nove meses no regime fechado. Jozué Rodrigues das Neves, o Cezar Cantor, também pegou a mesma pena, de seis anos e nove meses, mas no semiaberto. Todos os réus não terão direito a substituição da pena. Quebra de sigilo e provas A expectativa do grupo era de que Polaco fosse receber a propina. No entanto, ele pediu para um amigo, o comerciante Ademir José Catafesta encontrar Lino no estacionamento do Supermercado Comper da Rua Joaquim Murtinho. O empresário aquidauanense confirmou o encontro e o pedido de Polaco. Esta versão, conforme os promotores, foi confirmada com a quebra do sigilo telefônico. No dia do encontro, Catafesta ligou três vezes para o primo do governador, que entregou os R$ 300 mil, e duas vezes para Polaco, o beneficiário do dinheiro. Rastreamento dos telefones celulares e imagens das câmeras de segurança indicam que Hilarino Silva Ferreira saiu da empresa e no carro da Trucadão, que pertence a Rodrigo Souza e Silva, e se encontrou com Catafesta no supermercado. O dinheiro foi transportado no porta-malas dos veículos. No dia do roubo da propina, Vareiro ligou três vezes para David Chita, que teria repassado o local da entrega da propina e o itinerário de Catafesta. O MPE identificou 22 ligações entre os telefones de ambos. Os promotores destacam que Cézar Cantor fez 312 ligações para Kreff, responsável pela interceptação de Ademir Catafesta na BR-262. O rastreamento dos celulares confirma que o quinteto estava em Terenos na tarde do crime. O MPE confirmou 18 ligações de Lino para Polaco entre os 19 de outubro e 29 de novembro de 2017, período em que teria ocorrido a negociação para pagar a propina. Dos R$ 300 mil roubados, os acusados de participar do assalto ficaram com R$ 70 mil, enquanto Vareiro ficou com o restante para entregar ao primo e ao filho do ex-governador do Estado, segundo o MPE. Na época da denúncia, o advogado de Polaco, José Roberto Rodrigues da Rosa, negou que seu cliente tenha recebido propina para não fazer delação premiada. O advogado de defesa de Rodrigo, Gustavo Passarelli, destacou que não há provas contra o seu cliente. Rodrigo acabou absolvido pela Justiça. Reinaldo Azambuja classificou a denúncia contra o filho de “covardia”. O advogado Márcio Sandim afirmou que o Hilarino Silva Ferrreira é inocente e não há provas de que participou do roubo da propina de Polaco. Ele vai analisar a sentença para apelar contra a condenação.
fonte; o jacare